Verão Azul pela Costa Alentejana

Três bicicletas. Seis pernas. Duas tendas. Cerca de 300 kms e uma paisagem que sabe a azul quando o vento nos lambe a cara e em redor apenas se ouve o zumbido dos pneus no asfalto. Percorrer a Costa Alentejana de bicicleta não é uma  tarefa tão difícil quanto se poderá imaginar. Em Junho, três amigos fizeram-se à estrada e voltaram com os alforges cheios ventanias, céus e sorrisos.

Texto e fotos: Laura Alves

Dia 1 | Lisboa – Parque de Campismo da Galé | 44 kms

São 8h00. Tudo a postos para rumar ao Alentejo

A decisão de sair de Lisboa no domingo (dia 5 de Junho) e não no sábado teve a ver com as eleições legislativas. Nenhum de nós quis fazer parte da fatia de abstencionistas pelo que, mal as urnas abriram, cada um foi exercer o seu direito de voto. Como íamos sair de Lisboa de comboio em direcção a Setúbal, e ainda era necessário pedalar até à estação de Roma-Areeiro (a estação terminal, que nos daria mais tempo para entrar com as bicicletas), decidimos marcar encontro para as 9h30. O plano desse dia implicava uma etapa curta, pelo que haveria tempo para almoçar em Setúbal e seguir viagem apenas da parte da tarde. A viagem de comboio demora cerca de uma hora e, para quem não tem passe da Fertagus, custa 4,55 euros. Apenas são permitidas duas bicicletas por carruagem e estas devem ir presas, para evitar percalços. Numa das estações, já na margem Sul, entra um rapaz de calções com uma bicicleta equipada com alforges. Não há onde prender a bicicleta dele. Arrisca. Aparecendo, o revisor não iria certamente implicar. A julgar pelo aspecto empoeirado da bicicleta, calculamos que os percursos feitos seriam muito diferentes dos nossos. Acabamos por meter conversa e impressiona-nos o ar entusiasmado com que fala das suas aventuras solitárias por caminhos de terra ali na região. Apaixonado, a resvalar o alucinado, é a ideia com que ficamos. Despedimo-nos com um sorriso nos lábios quando o rapaz sai na Venda do Alcaide. Daí a poucos minutos chegaríamos a Setúbal, mesmo a tempo de um saboroso almoço de choco frito, ou não estivéssemos na terra dele. Pelas 14h30 é hora de apanhar o barco para Tróia. A tarifa é 2,50 euros e, estando bom tempo, a viagem pelo Sado é um prazer de ventos e tons de azul que prenuncia bem a aventura que aí vem.

À espera do ferry

No ferry. A viagem demora cerca de meia hora

A montar a tenda nova pela primeira vez

São então 15h00 quando saímos do ferry e eis que começa a verdadeira viagem – apesar de termos combinado não pedalar entre as 13h00 e as 16h30 por causa do calor, decidimos que a temperatura está adequada a um primeiro esforço, com o objectivo de chegar ao Parque de Campismo da Galé. São cerca de 40 quilómetros com poucas subidas, mas logo me apercebo que se calhar é melhor esperar que o sol fique menos forte: o calor toma conta de mim e decido parar para despir as calças e vestir uns calções mais frescos, por cima dos calções almofadados que já trazia de casa (sim, a felicidade existe e chama-se “calções almofadados”. Serão os nossos melhores amigos durante os próximos dias). Seguimos pela N261, passando pela Comporta, Carvalhal e Pinheiro da Cruz. Pelas 18h00 chegamos ao entroncamento que nos levará ao Parque da Galé. Depois de alguns escassos metros de alcatrão assustamo-nos: o acesso ao parque é, não terra batida, mas areia e pedras. Apercebo-me então que os pneus que trouxe para a viagem (gentilmente emprestados pela loja de bicicletas Lisbon Hub) são óptimos para andar em estrada, mas péssimos para este piso. Afundo-me na areia, resvalo nas pedras, equilibro-me desajeitadamente tentando não cair. Isto vai demorar. Penso nos meus pneus todo-o-terreno e desejo que estivessem comigo neste momento. Acabamos por conseguir fazer os cinco quilómetros com bastante cautela e algumas subidas íngremes. Finalmente, o parque, com uma merecida descida a pique que nos dá uma faísca extra de motivação.

O dono da caravana fez questão de nos mostrar o autocolante da RDA

É domingo à noite, o parque está praticamente vazio; aqui e ali, alguns casais estrangeiros preparam o jantar. Enquanto admiramos uma maravilhosa carrinha da marca Kässbohrer-Setra, um alemão chama-nos para vermos a sua autocaravana. Não fala inglês mas mostra-nos, com orgulho, um autocolante da RDA. Imaginamos as histórias que nos poderia contar, se conseguíssemos comunicar um pouco mais. Após jantarmos no restaurante vamos até ao bar acompanhar os resultados das legislativas com uma cerveja. Passos Coelho vence as eleições. Pedimos mais uma cerveja.

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